Dois pra lá


Àquela altura eu já estava leve. Na minha cabeça, fiz uma oração agradecendo pela cerveja e pela vodka - ou seria tequila? - e depois fiquei com uma leve culpa católica pensando que aquilo poderia ser um sacrilegio. Mas depois toquei o foda-se, tava leve mesmo...
Todo mundo se juntou pra fazer parzinho de dança, e ela te agarrou tão forte como eu devia ter feito. Eu quis chorar, gritar, derrubar ela no chão e dizer que você era meu primeiro, mas ao invés disso, fiquei me doendo por dentro enquanto um amigo me tirou pra dançar.
Ver você me deixava sóbria de novo, peguei o que havia no copo do amigo enquanto o ensinava a me rodar com mais gentileza; era verde e era forte e quando eu terminei de beber, ele me rodou e o mundo todo girou...
Ah! Assim era BEM melhor.
Ou seria, se eu não tivesse caído em ti. Minha cabeça tava rodando ainda e você me segurou.
"A gente pode dançar também"
"Que?"
"Ela foi ensinar seu par a girar", ele riu o riso que me desarmava
Dois pra lá, dois pra cá. Tava fácil.
Por alguma razão tava tocando a música homônima da Elis na cabeça.
Tu me jogou, me girou e fez tudo o que tinha direito. Eu respirei fundo, queria falar algo que não ia fazer parecer que eu era uma sucker por você, abri a boca e disse:
"Eu só..."
"Você demorou demais"
"Que?"
"Eu tô feliz agora. Mas se você quiser..."
"O que"
"Nada"
"Ok"
"Dois pra lá", ele sussurrou no meu ouvido, apontando pra direita.

E nada de dois pra cá.
Chega de dança, não adianta nada estar aqui sendo que tudo vai continuar numa reticência.
Não tava mais leve, então fui até o bar... Um rapaz me chamou pra dançar.
Obrigado senhor, pela tequila e foda-se a culpa católica, eu preciso aprender novas danças.

Comentários

  1. "[...] não adianta nada estar aqui sendo que tudo vai continuar numa reticência.
    [...] Obrigado senhor, pela tequila e foda-se a culpa católica, eu preciso aprender novas danças."


    Pqp.

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