Rua Fantoche. Batatas fritas. Porteiro e eu.

— E você, o que tá fazendo por aqui, Audrey?
Ela olha pra baixo.
Esquivando-se.
Quando finalmente responde, ela diz:
— Acho que tava com saudade de você, Ed — aqueles olhos verdes estão pálidos e úmidos. Dá vontade de dizer que não faz nem uma semana que a gente se viu, mas acho que entendo o que ela sente. — Sinto você se afastando, sei lá. Depois que isso tudo começou, você mudou.
— Mudei?
Eu pergunto, mas tenho consciência de que mudei.
Eu me levanto e olho bem pra ela.
— Mudou, sim. Antes você era simplesmente Ed — ela explica como se não quisesse ouvir a própria explicação. Só que parece que ela tem que dizer. — Agora você tá importante, Ed. Não tô completamente por dentro do que você tá fazendo, nem pelo que tem passado, mas, sei lá... você parece distante agora.

Chega a ser irônico, não chega? Tudo que eu sempre quis foi me aproximar dela.
Até tentei, desesperadamente.
Ela conclui:
— Você tá melhor.

É com estas palavras que vejo as coisas do ponto de vista da Audrey. Ela gostava quando eu era simplesmente Ed. Era mais seguro assim. Estável. Agora, ando mudando as coisas. Deixei minhas digitais no mundo, mesmo que pequenas, e isso mexeu no equilíbrio entre nós dois. Talvez ela tenha medo de eu não querê-la, já que não posso tê-la.
Assim.
Como éramos.
Ela não quer me amar, mas também não quer me perder.


Ela quer que a gente fique numa boa. Como antes.
Mas não existe mais garantia.
A gente vai ficar numa boa, tento prometer.
Tomara que eu esteja certo.

p. 207-208

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