Pode começar dizendo: não.

Se a gente juntar com a pá migalhas e farelos, o pó e os cacos que sobraram de nós dois, acho que faz um inteiro. Será que não? E aí? Que tal? Vamos? Como soa dividir comigo essa existência idiotamente ridícula, morna, real, estúpida, bagaceira e imbecil? Vamos fazer diferente, como ninguém mais sabe fazer, só nós? Diz que vamos, vai.
Não? É tudo que preciso pra começar a te conquistar. Diz que não, mas juro que vejo os seus olhos cheios de esperança, só pra provocar. Diga que não, ponha uma meta no meu colo, tipo num processo de seleção só pra eu provar que sou a melhor.
Isso, faz assim. Se faz de labirinto quando eu me oferecer em linha reta. Diz que metade de mim, a parte amiga, tá bom, só pra me empurrar inteira coração adentro, goela abaixo, com toda a calma do mundo. Isso, faz assim. Dá voltas e voltas e voltas na chave da tua emoção só pra eu me exibir que posso te desarmar, desarrumar sua vida e seus cabelos. Embora eu até hoje não te ame ainda, mesmo o amor não existindo, diga não e me encoraje a pôr tudo à prova.
Finge não me querer, disfarce o brilho no olhar, esconda o sorriso, ganhe torcicolo de tanto cuidar o outro lado, fique o tempo todo pensando no jeito infalível de ganhar o Oscar de melhor "tô nem aí". Me ache chata se eu te procurar, me ache a mulher da sua vida se eu sumir, me veja feia do teu lado, me veja linda do lado dos outros. Diga trocentas vezes pra você mesmo quando me vê de longe que sou a garota mais idiota, mais besta, mais fajuta, mais encantadora que você fingiu não gostar.
Perfeito assim. Fosse sem esses enigmas, sem esses rodeios, sem esses movimentos, sem esses contrastes eu o rejeitaria como todos os outros. Vem assim como uma onda que não se congela pra eu pegar, como uma música do Djavan. Mas alerto já que estarei esperando com os pés e o desejo de te ter pra mim descalços, esperando você se desfazer, perder energia e parar na areia, nos meus braços, no meu sofá.
Bolei um plano pra trazer você pra mim, todo inspirado no cheiro do seu pescoço. É mais ou menos assim: você finge me repelir como fosse eu uma ex-presidiária bagaceira e ressentida, e eu chego arrombando sua porta, seu carro, sua alma. Aí você se dá conta que para voar é preciso tirar o peso dos ombros, se desanda, e diz pra mim, no ouvido, com um fio de voz e outro de esperança de que seja tudo real, que isso é o maior erro do ano, que não imaginava existir tanta culpa no céu, que as pessoas ficaram mais bacanas depois que encasquetei em te querer. Tudo sorrindo mais do que seu rosto aguenta.
E devolvo, puxando com os dentes seu lóbulo, que nossa história foi escrita torta de propósito pra gente se cruzar, tudo enquanto eu babo sobre teus encantos, enquanto eu te beijo e te tenho do jeito mais manso e mais intenso e mais irreversível e mais gostoso e mais carinhoso e mais insano e mais duradouro da sua vida, tanto que você abre os olhos e me segura de birra, de tanta vontade de nunca mais me deixar sair de onde eu nunca deveria ter entrado.
Depois, com pequenos beijinhos e mordiscadas virando e desvirando seu corpo, virando e revirando seus olhos, convenço que os maiores amores se acertam nos erros, quando a loucura e a entrega vencem a resistência e o medo de alguma forma. Começo num beijo no canto da boca, aqueles que cabe a você decidir se acaba, ou prossegue, tá? Então, vamos? Pega na minha mão, entra no meu carro, sobe na minha garupa. Te mostro o quanto dá pra amar no caminho.

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