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A donzela, o notívago e o tempo

Era uma noite quente, apesar do conjunto de nuvens cinzentas penduradas feito um móbile no céu. Ela estava sozinha em seu apartamento, o ar indomável se esvaindo através do reflexo no espelho, dando brecha para que aparecesse em seu lugar a mais comovente face de solidão. Não que ela não tivesse amigos ou família com quem ela pudesse contar, pelo contrário, era só que as feridas que ela carregava eram grandes e profundas, feridas na alma que só o tempo cura e, às vezes, nem ele. Toda essa tristeza que ela sentia se intensificava. Se ela dissesse que estava infeliz à alguém isso demonstraria ingratidão e ela era muito grata por tudo e todos e isso a fazia sentir pior... Afinal, se ela tinha uma boa condição de vida, tanta gente no seu caminho capaz de fazê-la sorrir então porque ela não se sentia genuinamente feliz? Essa sensação não era justificada pela ausência de um amor romântico, coisas inexplicáveis provocaram nela aquele turbilhão de emoções. Ela não era frívola ou apática...

Circunscrição

– Feche os olhos. – Pra quê? – sorrindo para ele, ela perguntou. – Apenas feche-os. Confie em mim. Ela então observou-o ligeiramente, esboçando um sutil sorriso lateral, e obedeceu. Pronto. Aí estava ela. Em sua mais contemplativa aparência, esbanjando plenitude e harmonia. Mas ele sabia que não era apenas isso. Óbvio que não. Ela mesma sempre lhe dissera sobre como as aparências enganam; ele sabia que, por trás daquela figura que tanto o encantava, jazia um turbilhão de emoções e sensações, aguardando fervorosamente o momento da expansão, do domínio, da possessão completa. Era uma espécie de poder resguardado. Ele temia, mas desejava. Sua sabedoria avisava-o que seria arriscado prosseguir sem estar a par da complexidade particular dela, que qualquer passo em falso significaria estar frente ao abismo e que lidaria com situações desafiadoras disfarçadas. Estava ciente disso. Porém ser ardiloso era uma de suas mais admiráveis qualidades; ele estava disposto a enfrentar a donzela... ou o ...

28 de maio, sexta-feira.

Eu te amei muito. Nunca disse, como você também não disse, mas acho que você soube. Pena que as grandes e as mentes confusas não saibam amar. Pena também que a gente se envergonhe de dizer, a gente não devia ter vergonha do que é bonito. Penso sempre que um dia a gente vai se encontrar de novo, e que então tudo vai ser mais claro, que não vai mais haver medo nem coisas falsas. Há uma porção de coisas minhas que você não sabe, e que precisaria saber para compreender todas as vezes que fugi de você e voltei e tornei a fugir. São coisas difíceis de serem contadas, mais difíceis talvez de serem compreendidas — se um dia a gente se encontrar de novo, em amor, eu direi delas, caso contrário não será preciso. Essas coisas não pedem resposta nem ressonância alguma em você: eu só queria que você soubesse do muito amor e ternura que eu tinha — e tenho — pra você. Acho que é bom a gente saber que existe desse jeito em alguém, como você existe em mim.

Óculos

É como se eu tivesse acordado pro mundo e visto realmente as coisas como são. As pessoas como são e porque que elas fazem o que elas fazem, sabe? É como se eu finalmente pudesse ver como cada pessoa é de verdade, atrás das suas máscaras e dos seus vários disfarces. É como se eu parasse de usar meus óculos por muito tempo e pensasse que o mundo é daquele jeito: fosco, sem vida, sem eira ou beira. Mas quando eu os coloco, percebo que não era daquele jeito que eu via e é um baque quando você se vê diante daquela nova realidade, muda sua perspectiva e tudo ao seu redor. O que eu quero dizer é que agora eu sei quem você é, amor. Eu sei o que você fez e é tudo tão claro. Mas tão claro... Que eu me sinto estúpida por ter acreditado.

Quer saber uma verdade, queridinha?

Eu estou pouco me lixando pra sua vida E você vive querendo saber da minha. coisa de gente pequenininha.

Re-start.

E recomeçar é doloroso. Faz-se necessário investigar novas verdades, adequar novos valores e conceitos. Não cabe reconstruir duas vezes a mesma vida numa só existência. É por isso que me esquivo e deslizo por entre as chamas do pequeno fogo, porque elas queimam - e queimar também destrói.

My night's wish...

" I don't ask much, I just want you. "