Sou escritora de mesa de bar. Não me importo com minha escrita, com meus palavrões, com meus detalhes, nem com o meu desconexo amontoado de ideias. Não me importo com nada desde que seja impreterivelmente real e cru.
Trouxe meu corpo pra passear pelas frestas das pessoas que se apertam nesse alvoroço de alegria proposital misturada com sinceridade alcoolizada, enquanto dividimos nossa insanidade com a noite. É tudo muito devagar pra mim, meus passos, meu cotovelo que empurra, meus olhos piscando, minha mão que se livra de outras mãos ansiosas, e toda consciência que na verdade está tudo rápido demais.
Mais ar. Mais ar pros pulmões, cansados de tantos sustos e tantas ‘ites’ da vida, da loira de lábios vermelhos. Que ironicamente iria agora fumar seu cigarro, só pra não deixar de ter que respirar lá fundo de vez em quando pra seguir com o dia.
Sacudia o pequeno retângulo verde e friccionava freneticamente a parte metálica, como se assim ele fosse funcionar magicamente no meio daquela noite fria e barulhenta, definitivamente, não tinha sorte com isqueiros. E como uma canção que não saía da cabeça, eles entoavam meu nome com voracidade; vem logo, não percamos mais nem um minuto sequer.
As luzes acesas queimando os olhos acostumados com os bares escuros, saindo correndo pelas ruas na madrugada sem fim, tudo soava quase como um ato de revolução absoluto e irrevogável. Desfilávamos pela noite conhecendo o mundo, infinitas possibilidades eram agora criadas, éramos inéditos e imprevisíveis.
Estávamos todos numa caravana pro fim do mundo.
Me dá aqui sua mão, tá aqui o meu silêncio, rouco de tanto gritar, segura firme.
Não tem problema se você está se divertindo, ele disse. E em câmera lenta, sorri, e fechei os olhos, devagar, devagar.
- Não sei o que você tem, mas me deixa louco…
- Eu sei.

E se for pra morrer de amores, morra no meu bar.

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