Conversa de Madrugada

A boca disse o nome dele de novo.
- Mas que merda - gritou a laringe - cansei de ficar gastando minhas cordas vocais com a mesma vibração - Boca, não dá pra dar uma maneirada não?
A boca, levemente ultrajada, logo replicou:
- Culpa dos olhos... Tavam lendo uma coisa naquela internet e me obrigaram a falar.
- Epa, epa, ela manda eu ler, eu só obedeço. - os olhos estavam cansados - Esse nome me dá vontade de cometer auto-flagelo, sério, vou dar glaucoma pra ela.
Todos riram, adoravam debochar dela, besta, ficava mandando eles fazerem a mesma coisa todo dia.
- Aí vem aquela dor bem profunda - gritou o cérebro lá de cima - Ela tá lembrando de TUDO relacionado a ele.
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAI - o pâncreas gritou
- Que que foi, cara? - perguntou o estômago, seu vizinho.
- Mas que diabos. Essa menina tá até me fazendo ficar doído. - ele suspirou longamente, se livrando um pouco da dor latejante - Ela nunca vai parar de lembrar dele não?
- Sei lá, cara. Espero que sim, porque as consequências são brabas. Primeiro vêm aquelas borboletas gigantes e depois uma dor que dá vontade mesmo é de chorar.
- Chorar... Taí, é isso mesmo que dá vontade.
Então começaram todos os afetados a chorar com muita vontade, mas muita vontade mesmo, todo o corpo dela estava sendo inundado por lágrimas salgadas que não faziam nada de bom pra sua pressão arterial, então o coração pôs-se a chorar também.
Aí bem depois, quando tudo tava bem esgotado e os dutos lacrimais já estavam ressecados, o cérebro resolveu guardar as lembranças dele na gaveta que fica lá pras bandas do lobo frontal, pra ela conseguir escrever sobre tudo isso.
As mãos então guardaram o velho diário debaixo da cama.
E ela dormiu, o Sol nasceu e de repente tudo ficou excepcionalmente maravilhoso.

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