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Olá, de novo. (Ninguém muda)

Eu não sabia o porquê de estar ali depois de, sei lá, uns cem dias. E você, tão blaser e super discreto, exatamente como cem dias atrás, também nem perguntou. Ficamos ambos parados e quietos, pensando muito. Eu e meu punho cerrado e apoiado na bochecha, você futucando alguma coisa no cotovelo com a cara séria e entediada. Como numa cena de fluxo lento. Fazia muito tempo que a gente não se via depois que tudo deu errado. Convidei pra um cinema e você me pediu que entrasse. Tudo estava diferente fora as roupas sempre penduradas. Ficamos ali suspensos, sem saber que horas eram, se agora nossos dias separados haviam nos passado pra trás. É só paz de espírito. Ou duas pessoas sem habilidade de montar o quebra-cabeça de uma segunda (talvez terceira) chance. A gente foi assim, como dois espelhos, a personificação do côncavo e o convexo, refletindo um pra cada lado, só que com o encaixe perfeito. Só o amor sem terceirizações, feito de não mais que duas pessoas, pode ser tão redondo e circular ...

Ficaí

Da cozinha eu te vejo sério e minha sinusite já se manifesta contrária à ausência do hálito do seu papo calmo, curioso e um pouco engraçado, então fico pensando no que mais posso te oferecer pra você ficar aí. Burra, eu devia ter lotado meus armários antes de entregar mais uma vez minha dolorosa vontade de ser dois. Procuro um jeito de te manter descontraído morrendo de pânico que você só esteja distraído, misturando ausência com um tanto de curiosidade. Parece exagero, mas é que você, poxa vida, só você conseguiu pular o muro de dificuldades que levantei em volta de mim quando as palavras dor, saudade, ausência, falta e despedida fizeram de mim uma menina de lata. Você e seus cabelos escuros, seu gênio sagitariano, seu abraço com cheiro de confiança e seus sorrisos dignos de comercial de creme dental. Eu, menina com os pés no chão e sem teto, acabei de decidir levar um choque térmico, atravessando bruscamente pro lado quente da calçada. Conto contigo. Então, ficaí.