Hey, doctor

Depois de meses avaliando o caso...

— Qual é o meu problema, doutor? — ela perguntou.
— Vocês vivem uma relação peculiar de amor vestido de ódio... — ele começou, olhando para suas anotações. — Vocês devem se identificar demais ao ponto de serem inseparáveis.
— Sei... apesar deu renegar até a morte a palavra "amor".
— O ódio vem justamente por causa desse "amor". Entende?
— Eu acho que sim...
— Veja, não é no sentido de "vamos fugir e ser felizes para sempre". É mais complexo...
— Eu sei, é mais complexo. Já falamos sobre isso, é inevitável falar. Mas é porque é diferente. Eu não o quero; não quero ele apaixonadamente, nem fisicamente. Mas uma parte de mim quer precisar dele.
— E quanto à outra parte?
— A outra sustenta um ódio incabível que faz a primeira parte ficar com nojo do que pensa e sente.
— É, é um conflito na tua essência de ser.
— Mas doutor... Ao mesmo tempo que para ele eu sou aquela pessoa que ele nunca vai atingir... Meu Deus, ele me atinje. Quase sempre quando me deixa em segundo plano.
— Eu sei. Sei muito bem, já faz meses. Mas você não se decide, fica numa confusão sem precedentes.
Ela o olhava como se tivesse certeza de que mesmo depois de meses exaustivos de conversações incômodas, ele não soubesse de nada. Não entendia nem a metade do que se passava realmente no íntimo dessa paciente.
Ela continua mesmo assim.
— Sempre que ele quer, eu não quero. Porque ele vem com o "querer" errado. O "querer" apaixonado e carnal. O "querer" que o faz parecer idiota e imprestável, o "querer" que eu abomino.
O doutor ia recomeçar a falar, mas ela interrompe.
— Eu sei. Eu devia deixá-lo.
"Já não me sinto perfeita e meu ego já não é o suficiente como antes"
— Eu não vou lhe propor isso. Só irei lhe propor algo que eu realmente ache que você seja capaz de fazer.
Ela olhou estupefata para ele.




























E ela foi para casa procurar outra clínica, sempre achando que alguma delas resolveria seu problema.

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Dizer.

Zombies

All apologies and smiles, yours truly, ugly valentine