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Doação

Me dá toda sua tristeza que eu transformo em amor.
Eu queria que tu me ensinasse a ler tuas entrelinhas ou que suas verdades estivessem mais expostas sob longos cílios. Queria saber se nossa história cheia de desencontros te incomoda tanto quanto a mim, e se é tão difícil para você seguir após as convergências da nossa sina. É árduo não saber se o que você enxerga quando me vê é algo que mereça perdurar, porque eu já tatuei você nas minhas pálpebras, te sinto a cada piscar de olhos. Me conta teus segredos, vai. Dos indecentes aos inocentes. Me deixa ler o que você deixa implícito, decodificar essa língua que só tua pupila é capaz de traduzir. Abre tua mão e me deixar traçar com meus dedos as tuas linhas que a cigana afirmou conter teu rumo, e me desenha ali também. Por mais que eu ame teus mistérios, teu silêncio é maior do que as palavras que arranco da tua íris. No teu silêncio existe um infinito do qual eu necessito, mas não consigo decifrar.

Dois pra lá

Àquela altura eu já estava leve. Na minha cabeça, fiz uma oração agradecendo pela cerveja e pela vodka - ou seria tequila? - e depois fiquei com uma leve culpa católica pensando que aquilo poderia ser um sacrilegio. Mas depois toquei o foda-se, tava leve mesmo... Todo mundo se juntou pra fazer parzinho de dança, e ela te agarrou tão forte como eu devia ter feito. Eu quis chorar, gritar, derrubar ela no chão e dizer que você era meu primeiro, mas ao invés disso, fiquei me doendo por dentro enquanto um amigo me tirou pra dançar. Ver você me deixava sóbria de novo, peguei o que havia no copo do amigo enquanto o ensinava a me rodar com mais gentileza; era verde e era forte e quando eu terminei de beber, ele me rodou e o mundo todo girou... Ah! Assim era BEM melhor. Ou seria, se eu não tivesse caído em ti. Minha cabeça tava rodando ainda e você me segurou. "A gente pode dançar também" "Que?" "Ela foi ensinar seu par a girar", ele riu o riso que me desarmava...

To the stupid man who will spend the rest of his life with me because he wants that

Eu vou me casar com você todos os dias. Todos os dias eu vou dizer "sim" de novo e de novo. Vou me casar com você todas as manhãs na cama. E depois na cozinha, vamos ter nossa lua de mel.  Todas as segundas vou te amar como nos domingos, e em todos os momentos de amargura que eu quiser jogar tudo para o alto, vou ficar e te amar mais ainda. Quando eu quiser quebrar a louça da cozinha na sua cabeça, meu bem, vou fazer teu prato favorito. Eu vou querer fazer amor contigo no banheiro do avião assim como fazemos amor de surpresa no nosso banheiro. E continuarei te desejando 365 dias por ano. E se você deixar a toalha molhada em cima da cama, apertar a pasta de dente na metade, bagunçar meus papéis, esquadros e lápis do escritório e eu te encontrar dormindo sem querer, com um livro em cima de você no sofá... Eu esqueço de tudo e me deito junto à você e sua paz. Minha paz. Mesmo que eu te faça perder a razão, meu bem, lembra de como somos agora, diz "sim" e me a...
Eu não poderia. Mesmo com a música mais alta que as batidas do meu coração, mesmo com as luzes piscando mais rápido que meus olhos, mesmo com os rostos masculinos querendo ultrapassar os limites de aproximação, mesmo com o mundo girando lento. Eu procurava inconscientemente em todos ali, o garoto de cabelo sem corte, óculos de aro preto, fumando um cigarro, mas ele não iria aparecer. Nenhum deles teria seu cheiro, nenhum deles teria seu beijo, nenhum deles me faria perder a cabeça, nenhum deles me daria um frio na barriga, nenhum daqueles caras que tentavam me fazer mudar de ideia borrariam meu batom vermelho, nenhum deles era você.
Nem fechei os olhos mas já sonhei umas 20 vezes com você hoje. Só não sei dizer se foi sonho bom ou sonho triste.  Porque deu vontade que a minha cama não fosse só minha, e meu corpo não fosse só meu. E mesmo sabendo que no fundo, já não pertenço mais a mim, você não está aqui pra me fazer sua, sua, tão sua. Vem dizendo que eu não preciso mais me sentir só. Fecho os olhos enfim e você está lá, moreno, você está lá. E eu já não sou tão só. Não, eu não sou mais sozinha. Depois de você, eu sou nós. Nós que eu não quero desatar, nós que eu quero complicar de um jeito que não dá mais pra soltar. Não me solta, não me solta.

Fantasy

O vapor tava impregnado no espelho e você apareceu atrás de mim, por mais que eu não te visse, sabia que você tava com aquele sorriso no rosto, o nosso  sorriso, tu disse que era até melhor que a gente não visse nada. O seus lábios estavam quentes no meu ombro, o chuveiro tava correndo e o barulho da água tava chamando a gente, então primeiro os cabelos foram se molhando enquanto estavam emaranhados entre mãos, os lábios agora não se desgrudavam mais e pouco a pouco a temperatura ia subindo mais e mais. Você pôs a mão na minha cintura e disse que me amava, mas falava entre pausas arfantes, ávidas, loucas por mais e eu honestamente não tinha nem forças pra responder, então trouxe seu corpo bem pra junto do meu em resposta. Queria você assim todo dia, quente, na minha mão, me amando; me queria todo dia assim, te amando, na sua mão, mais quente que o inferno e adorando cada passo disso. O vapor foi subindo cada vez mais e tudo ficou mais intenso, mais alto, mais vibrante; nosso...