A donzela, o notívago e o tempo
Era uma noite quente, apesar do conjunto de nuvens cinzentas penduradas feito um móbile no céu. Ela estava sozinha em seu apartamento, o ar indomável se esvaindo através do reflexo no espelho, dando brecha para que aparecesse em seu lugar a mais comovente face de solidão. Não que ela não tivesse amigos ou família com quem ela pudesse contar, pelo contrário, era só que as feridas que ela carregava eram grandes e profundas, feridas na alma que só o tempo cura e, às vezes, nem ele. Toda essa tristeza que ela sentia se intensificava. Se ela dissesse que estava infeliz à alguém isso demonstraria ingratidão e ela era muito grata por tudo e todos e isso a fazia sentir pior... Afinal, se ela tinha uma boa condição de vida, tanta gente no seu caminho capaz de fazê-la sorrir então porque ela não se sentia genuinamente feliz? Essa sensação não era justificada pela ausência de um amor romântico, coisas inexplicáveis provocaram nela aquele turbilhão de emoções. Ela não era frívola ou apática...